Havia um cheiro especial na noite!
Cheiro a frio e a ausência!
Como dois holofotes, percorro as janelas e o casario.
Tudo frio, tudo noite, tudo nada...
Tudo dorme e descansa, do caminhar longo e contínuo do dia...
Procurei entender o segredo desta noite, deste frio que me percorria...
O olhar pousou-se no mármore do terraço, entrecortado geometricamente por esquinas frias e longas e impessoais de cimento, por onde descia a luz marmórea da lua.
Era uma luz pálida e fria. E as sombras escreviam-se no chão frio e inerte, com longas linhas, longo silêncio!..
Um torvelinho de memórias era o filme que se projectava agora no cimento lavado e frio onde imaginava agora sombras fartas, adormecidas no chão, de árvores frondosas, cheias de vida e ninhos e verde e gorjeios e pólen e ramos longos num abraço cheio, segurando a vida!
...E longe, muito longe, em vez do som abafado e rouco de um motor, nascia o piar do mocho em louvores à noite quieta e longa ...
...E o arrepio que antes sentia com o piar do mocho junto às lápides cantado pelos ultra românticos, transformava-se num arrepio de saudade nas noites cálidas de verão, na minha aldeia, onde o luar era acompanhia nas noites cansadas!
Saudade do meu luar!
...E apercebi-me que devia aproveitar o tempo do meu tempo...
...E que este tempo, embora não sendo o tempo que quero, é o tempo que tenho!
...E é o tempo que o Céu me deu, para saborear neste tempo, a magia do tempo...
...que percorre o tempo da minha noite!
Manuela,
ResponderEliminarpressente-se nesta prosa poética uma saudade nostálgica, mas também a certeza de manter as portas abertas à vida.
Muito lindo!
Beijinho e bom fim de semana,
Ana Martins
Uma noite que, apesar de fria, te deu ânimo para "para saborear neste tempo, a magia do tempo..."!
ResponderEliminarAlgum desassossego, Manuela, dentro deste "tempo", pareceu-me! Ou saudade de tempos em que o tempo tinha mais ou melhor tempo, talvez!
ResponderEliminarEnfim, nada que o tempo ou outros tempos não possam curar ou, pelo menos, melhorar! É o que espero e desejo, seja ao sol, seja ao luar!
Beijinhos e tenha um bom domingo, amiga!
As lembranças de um outro tempo mais ameno, nessa noite fria, vieram desassossegar o aparente sossego em que julgava estar.
ResponderEliminarMas, depois dessa noite longa e fria, ciente de que este era agora o seu tempo, o dia amanheceu em paz.
(Resto de um bom domingo!)
Sensível, nostálgico e bonito... Uma descrição comovente da saudade...
ResponderEliminarBomk estar aqui e conhecer esse espaço tão bonito, Manuela!
Um beijo e meu carinho!
Querida Manelinha
ResponderEliminarComo uma noite fria pode trazer tão boas recordações de noites estivais!!!
Só tu, minha querida, para nos presenteares com tão belas antíteses!
Carpe diem.
Obrigada por existires no meu tempo.
Um beijinho
Beatriz