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domingo, 1 de novembro de 2020

Hoje

                       Da net
Hoje, não cantes a primavera que nasce nos outeiros.
Chovem outonos em mim com folhas secas pelo meio.
As rosas perderam a cor,
os lírios perderam asas
as aves perderam chuvas de penas, na pena do desamor.
O sol emudeceu a luz,
as nuvens já não cavalgam no céu.

 
Quero tréguas neste trepidar da calma
que foge, que me arrasta.
Deixa uma vez, a solidão morar comigo
na casa que construiu
nos marfins das noite sem estrelas.
 
Quero a paz da luz, a alegria da noite no refúgio
da solidão.
Quero ninhos no silêncio das alvoradas,
acordar no linho dos lençóis
despertar com  o sorriso do orvalho
na frescura das  madrugadas.
 

Manuela Barroso

 

 

 

 

 


sábado, 19 de setembro de 2020

Bem - vindos!


Depois de uma pausa procurando o afastamento  destes grilhões que aferroam corpo e alma, convido-vos hoje, a ouvir um vídeo que tentei fazer, embora com  detalhes do meu reduzido saber informático.  Mas sou  a voz e o afecto que me une a todos/as vós, queridos AMIGOS/AS.
Eis-nos de novo!




                                                                         

                                                                            "O Bosque"

                                                                                         Manuela Barroso






quarta-feira, 8 de julho de 2020

Rasgava





Rasgava a planura do oceano
como quem semeia cartas ao vento.
Escondia o gemido no agasalho frio do nevoeiro
que nunca lhe fora tão límpido.
Sorriam os olhos com a corda púrpura do poente
que nunca lhe fora tão cúmplice.  

Plantou-se na terra
e nunca esta lhe fora tão cruel.


Manuela Barroso






sábado, 20 de junho de 2020

Se me disseres



Se me disseres que te apaixonas pelas flores que
cobrem as ruas das tuas mãos ou pelo austero cântico                
que atravessa as frestas na sombra das pedras,
vibrarei com o âmago da tua  adolescência.      

Nada é tão puro e cristalino e tão levianamente azul.
Nada é tão perecível como a sonolenta caligrafia  de
um sinuoso silêncio submerso no misterioso lodo das
águas. Nada é mais belo que o sibilar das folhas,
o saltitar do chapim na lucidez da manhã.

Submersos na imaginação vadia, sorvemos o bulício
que nos suspende à moldura da vida,  como corpos
abandonados  à procura de um poente.



  Manuela Barroso

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Foi ontem


 Rumazov

Porque ainda hoje o meu estado de alma é o mesmo, um texto reeditado, feito de recordações.



 Foi  ainda ontem que o tempo não morria
na estrada da minha pele!
Os olhos atravessavam as pedras nas micas
incandescentes de agosto, cheiro a mel
E as rosas...
-ah, as minhas rosas!-
choravam as pingas de sulfato das latadas em flor!
E eu corria menina nos canteiros
com margaridas sorrindo pelo meio!
Que bom saltar à corda ,à macaca e às casinhas
não saber ler a lua nem Vénus à noitinha
correr por entre o centeio que arde
no rubro sol da herdade...
Fazer tudo
fazer nada
somente o lanche da tarde
Ah! morangos pequenos silvestres num creme
de açúcar e Porto na delícia de um recheio
da torta saída do forno e chocolate pelo meio..
E as delícias de amoras colhidas entre os picos
amansados com a língua com as pintas de salpicos?
E o sol ardia na pele e quanto mais ele batia
mais em fogo me fazia na praia do meu jardim
E nos vestidos rosa, de alça, eu mostrava a minha cor
e a graça de andar descalça na relva bordada a flores.
Ah, tardes na minha casa, meu descanso, meus jardins
que eu regava à noitinha com o canto  dos chapins.
 
E põe-se o sol lentamente
ontem , hoje e amanhã
já não como antigamente...
Hoje foge a vida  a correr
fugindo de mim também.
Mas antes também fugia
porém, com outra magia.
Agora...
Ai, agora corro tão calmamente
saboreio cada hora
que quando vejo correr
os olhos gritam...
Pára, fica, demora!..
 E dói-me a pressa
da pressa dos outros...
Dói-me ter que parar
na metade do caminho...
 Devagar que tenho pressa!


Manuela Barroso (reeditado )