sábado, 13 de fevereiro de 2021

Longas Penas

 


    

 
Longas penas atravessam o cálice da tua noite.
Os clarões abrem-se em raios luminosos, indiferentes
a tempestades. Vacilas na fragilidade do teu corpo 
na prisão de devaneios, quimeras. 
 
O teu mundo definha numa poeira constante, 
mas a vida é floresta tua, ardendo em cada instante. 
Intriga-te o baloiço das ideias, não te 
conformas com o barulho das marés.
O silêncio percorre-te as veias 
e a paz está no que pensas que és. 
 
Acomodas-te ao vício do vento que te vende 
o valor do vazio no infinito de ti. 
Mas não ao fogo-fátuo, tragando de uma só vez, 
a vida que carbonizas em vertiginosa rapidez. 
 
És a essência da verdade que se esconde no escuro
e o muro do tempo que se perdeu no futuro. 
 
Te direi que
impávida com o tempo, 
serei a árvore plantada, à tua espera, 
aguardando, paciente, a seiva da alegria 
em cada folha de primavera.
 

 Manuela Barroso, in “Luminescências” , 2019