Despem-se as árvores, veste-se o chão,
vestem-se os rios de madrugadas.
Despe-se o dia de tantas aves,
veste-se a noite de sombras caladas.
De alegrias te vestes, sorrisos mansos,
olhos de sal, de tantas
gotas,
as mãos se abrindo em amor e remanso.
Veste-se a boca de tanta ofensa
monólogos longos em sobressalto
nos gritos que ditam sua sentença.
Vestem-se os ouvidos de tanta injúria
palavras loucas, voz sem espaço
no cristal que fere com a maior fúria.
Veste-se o sol de alegria,
e as madrugadas de fresco orvalho,
veste-se de penumbras e sombras o dia-a-dia
Assim é a vida: uma manta de retalhos.