Na música das pombas, notas de folhas amarelas e tintas de outono.
Debico a alegria de te saber escondido,
ainda que entre os ramos desnudados,
e sorrio à procura de ti.
Nas folhas
bamboleantes num adeus à casa,
cai a nostalgia da impermanência do tempo.
As pingas
começam a desprender-se da tatuagem das nuvens,
amansando o reboliço do tapete
de ferrugem.
E a beleza da ainda perfeita folha, aceitando a breve
transformação do limbo,
aquieta-se resignada de pousar em breve no pó lamacento,
tocada com a suavidade delicada das pegadas das pombas.
Somos a folha caída de outono à
mercê deste tempo finito,
aceitando resignados os sulcos que a vida lavrou.
Breve, num adeus ao outono e à vida,
somos outras folhas caídas que o chão mastigará.
E outra primavera virá.
Manuela Barroso