quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Deixa que o deserto





Deixa que o deserto seja o oásis e a areia seja o mar
desta quietude branca que corre e avança
no seu jeito de abraçar.
E  que cada flor de areia
seja olhos do deserto
tão distante mas tão perto
tão árido mas tão liberto
onde correm as palavras nas pegadas do verso.

Que subam, que desçam nas dunas
em grãos de palavras ao vento
que não penso, nem quero, nem digo
acorrentadas às algemas dos  meus pés nus
de mendigo.
Que se enterrem na areia das minhas mãos, os seus dedos,
que sequem ao sol
na sombra vagabunda do medo.

Hoje sou a liberdade no esqueleto mudo do segredo.


Manuela Barroso, in "Luminescências"