Na planície verde dos sonhos,
as águas correm
com a placidez dos dias
esquecidos.
É a única voz que perfuma o
pão desta fome de silêncio
Contorno as margens dos
sapais e colho hastes de alegria
no bailado leve das ervas.
Prendo-me ao chão, escutando
as súplicas das rãs
no murmúrio da linguagem
que salta da pele plana
e quieta dos charcos.
Sigo o vaguear inquieto das
libélulas
arrastando consigo
o sono dos nenúfares
Quero vingar-me deste lugar
abrigado da noite
que me oculta a dança suave
dos reflexos dos olhos da lua,
sacudir este sal que fulmina
os sabores das manhãs quentes e quietas
e agonizar com a felicidade
do declínio das tarde limpas
com lumes no horizonte.
Regressarei ao meu vale azul
e pernoitarei com as
asas das estrelas.
Manuela Barroso, "Eu
Poético"