CINCO LÁGRIMAS POR ALEPO
A sombra inclina-se sobre ti, Alepo.
A noite é o teu véu.
O azul que cobria a tua beleza é o fumo do fogo
com que cada dia celebram a tua morte.
O verde e as flores dos teus jardins
sucumbiram há muito amortalhando a tua sorte.
A noite é o teu véu.
O azul que cobria a tua beleza é o fumo do fogo
com que cada dia celebram a tua morte.
O verde e as flores dos teus jardins
sucumbiram há muito amortalhando a tua sorte.
Não te deixes morrer, Alepo.
Segura os escombros que ainda sobram
e esconde entre as frestas as crianças órfãs,
que deambulando, já nem choram.
A poeira secou-lhes os olhos e dentro de cada lágrima
o medo mirrou de tanta crueldade.
Nos umbrais desfigurados das tuas ruínas
afaga as mães que se arrastam com fome de paz e pão,
pregando os olhos moribundos nas sirenes
que se misturam com o assobio dos canhões.
Atravessas o meu silêncio como um sismo enraivecido
transformando o coração num vulcão,
lava tórrida que chora em gritos de indignação.
Segura os escombros que ainda sobram
e esconde entre as frestas as crianças órfãs,
que deambulando, já nem choram.
A poeira secou-lhes os olhos e dentro de cada lágrima
o medo mirrou de tanta crueldade.
Nos umbrais desfigurados das tuas ruínas
afaga as mães que se arrastam com fome de paz e pão,
pregando os olhos moribundos nas sirenes
que se misturam com o assobio dos canhões.
Atravessas o meu silêncio como um sismo enraivecido
transformando o coração num vulcão,
lava tórrida que chora em gritos de indignação.
Choro por ti, mártir Alepo.
O teu coração já não bate porque to arrancam a toda a hora,
em cada filho, na combustão das valas, onde agora mora.
Já não te pertence o teu sol soalheiro.
Anoitecem-te com o fumo ácido dos morteiros.
Gota a gota te mirram as crianças que em ti cresciam
e que agora atravessam a poeira dos escombros
outrora parte do colo onde adormeciam.
No desnorte do teu horizonte se ergue o teu nome,
escrito com teu sangue, algures no monte.
O teu coração já não bate porque to arrancam a toda a hora,
em cada filho, na combustão das valas, onde agora mora.
Já não te pertence o teu sol soalheiro.
Anoitecem-te com o fumo ácido dos morteiros.
Gota a gota te mirram as crianças que em ti cresciam
e que agora atravessam a poeira dos escombros
outrora parte do colo onde adormeciam.
No desnorte do teu horizonte se ergue o teu nome,
escrito com teu sangue, algures no monte.
Na Abóbada que te cobre acolhe-se a Alma de que és parte.
Na potência dos fortes, querem-te sumindo.
Resiste, Alepo.
Só a putrefacção serve aos abutres famintos.
Na potência dos fortes, querem-te sumindo.
Resiste, Alepo.
Só a putrefacção serve aos abutres famintos.
Manuela Barroso, 2017