Sabes, tudo fica longe demais!
O Espaço cresceu no Tempo com sede de todas as horas
Cruzam-se os ponteiros das árvores
com as asas das gaivotas ralhando com as marés
E o tempo das marés cola-se ao horizonte do Tempo
num espaço que só tem cor
É a cor de um tempo que morre nos lábios do mar
cercados de espaço
E tudo fica tão longe!
Lampejos longínquos visitam o tempo da noite
abandonando-se nos círculos do Tempo
em naufrágios de agonia
Rasga-se o véu da saudade de tão longa noite
que já foi dia.
Dói
porque fica longe
longe demais
Mas o tempo percorre o sal do rosto regado
com açúcares de alegria e torres brancas
no sorriso das ameias
sobranceiras à aldeia
Um espaço onde ecoam passos lassos
dos corpos sem memória
porque sabes,
tudo fica longe demais!
No precipício do Espaço [sem fronteiras] descem as vertigens
em corvos de negro, no espaço das escarpas
que se vertem até ao abandono do leito
É íngreme e fica longe
E sem tempo de subir
Tudo é longo
Tudo fica muito longe,
longe demais!
Manuela
Barroso, In “Laços” Versbrava