Ontem vi o teu coração nos olhos das pedras.
Pesavam
no meu peito.
Ouvi
sílabas de silêncios em buracos cravados
no chão, bocas
abertas na noite em tentáculos
de
estrelas navegando solidão.
Eras a luz
escura
em tetos
de alvorada
nos braços da lua.
Caminhei
com o vento
nas ondas
do teu corpo,
tão
vagarosas e longas,
tão lentas
e tão noturnas.
Desci as
madrugadas que dormiam
no meu
rosto, lençóis de bruma fria
renda
orvalhada, reflexos de sol posto
nesta
tarde ainda molhada.
Bebi
cheiros de espuma que nasciam
do teu corpo em impertinências
famintas .
Veio o
vento.
Levou o
aroma
já morto.
Manuela Barroso, in Antologia Poetas Lusófonos