segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sinto



 
Sinto percorrer-me a pele, os olhos cansados das folhas caídas.
A canção das árvores acorrenta esta fome de Te encontrar.
Invade-me o tédio deste ar taciturno  que morre aos poucos
 nos escombros do dia.
Apresso-me a colher os últimos frutos nesta sede de nada,
feito chá da tarde.
Arrasto o olhar nos esconsos inertes, tão frios, cheios de vazios.
Fixo o silêncio na monotonia vaga que me procura e anestesia,
nesta luz que dorme que nem é noite nem dia.
Prolongo o meu êxtase na vastidão de ausências que já não sinto.
Apenas desejo a saudade que já não tenho.
Mas este penoso bem-estar eleva-me para os penhascos altivos
e solenes de fim de mundo num calmante sossego de solidão
na quietude dos vazios.
A urze já se foi com o tojo da minha serra.
Mas a semente penetra na terra para voltar a sorrir
a minha alegria na nova primavera.
As flores não são as mesmas? Deixá-lo!
Eu também não serei mais quem era
sou também outra Primavera.

Manuela Barroso
Imagem-Net

28 comentários:

  1. Andamos pelas PRIMAVERAS, mas muitas vezes carregando as nostalgias dos OUTONOS...
    Lindo poema, minha querida!!
    Todo cheio de sentimentos e emoções intensas...
    Assim são alguns seres - aplacados de sensibilidades!!!
    Lindo dia!!!

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  2. Lindas transformações tão bem sentidas e expressas aqui! beijos,chica

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  3. Lindo poema! As flores não são as mesmas, o céu não é o mesmo, tudo muda sempre, embora não se perceba...

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  4. Admirável a espiral de desalento com indícios de esperança no que há-de vir.
    Uma maravilha.

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  5. "Eu também não serei mais quem era
    sou também outra Primavera."
    Linda conclusão poética do movimento da vida.Escrevestes lindamente esta passagem de solidão e quietudes dos vazios para alegria de novas primaveras.Como sempre precioso texto!Amei bela amiga Manu.Bjs Eloah

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  6. "...de ausências que já não sinto...Ahhh saudade onde tu andas???
    Paz e bem

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  7. As folhas caídas, o tapete do passado, adubam as esperanças coloridas fundamentam-se para viver uma Primavera que ainda faz folia no coração.Lindissimo jogo de figuras Manuela.
    Grato sempre pelo carinho.
    Meu abraço com carinho e admiração.
    Beijo poesia.

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  8. Minha querida Manuela

    Como sei do que falas neste belo texto...como sei desse despir de tudo o nos iluminou a vida e nos tatuou sorrisos no rosto e depois nos cinzelou a tristeza em cada poro da nossa pele.
    Como sempre saio daqui emocionada porque me leio em cada linha do que escreves tão sublime e sem querer chove-me no olhar.

    Um beijinho com muito carinho e admiração.
    Rosa

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  9. Magnífico! Primoroso. Encantador.
    (Não tenho outros adjectivos. Perdoa)


    Beijos


    SOL

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  10. Manoela
    Sua poesia é bela demais!
    Eu também queria saber fazer poesia para dizer o tanto que sou agradecida pelos meus amigos portugueses me terem por amiga.
    E peço sempre pra Nossa senhora abençoar este povo que aprendi a gostar por causa do blog.
    com amizade e muito carinho MonicA

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  11. Diferente por certo mas eternamente bela.

    Bem haja!

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  12. Cara Manuela,
    Tua Primavera partiu daqui linda, saudável e rejuvenescida no último solstício. Deve estar neste momento cruzando, no meio do Atlântico, com o Outono, que zarpou daí para cá no mesmo dia. Imagino que as duas vagarosas naus estejam saudando-se com apitos e bandeirolas, uma com velas floridas e a outra com panos vermelhos e dourados. E ambos chegarão - um aqui, a outra aí - no próximo equinócio.
    Mandei-te por ela raios de sol, embalados em arcos-íris, e muitas flores e sonhos e risos e beijos. Creio que chegarão bem.

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  13. Manoela
    E verdade. A História do Brasil contada por nós e feita com dois povos que souberam na verdade VIVER.
    Mas eu nao importo. Eu acho divertida conta-la sobre os dois aspectos.
    Quando fui em Lisboa trouxe um livro sobre Carlota Joaquina e ri muito. Dei de presente para minha prima que é historiadora.
    A mamae é que contou a história da fazenda de seus avós. Meus bisavos.
    Do lado do papai somos descendentes de portugueses. Ele veio de portugal e comprou umas terras aqui e o patrao nao gostou. Acabou ficando. Acho que por isso gosto tanto de Portugal.
    Vou ver se acho um bolo de fuba bem fácil pra voce fazer e ficar igualzinho os daqui.
    Tenho uma comadre perita em bolo de fubá.
    comc carinho Monica

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  14. Os pássaros que cantavam ao entardecer na palmeira junto do meu prédio, já não aparecem; estão como eu... cansados dos dias taciturnos..." tão frios, cheios de vazios". Foram para outras paragens como a minha alma também vai, mas voltarão assim como ela sempre volta; às vezes mais quieta...mais serena; outras porém preocupada...parece aflita...angustiada. Quer ver sol a minha alma...flores e pássaros; quer a Primavera, embora saiba que não será a mesma; não serei eu também a mesma, Manuela, mas...estarei pronta a saudar com alegria os pássaros de novo na minha palmeira... que também já não é a mesma e não o será na Primavera; está lá...lá estará e eu também se a vida assim o permitir. É assim a vida...sempre diferente, mas sempre vida e, como diz Guimarães Rosa" o que ela quer de nós é coragem " para saber vivê-la com todas esta diversidade de sensações e constantes adversidades. Obrigada, amiga por este belo momento. Um beijinho carinhoso e boa noite.
    Emília

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  15. Um belíssimo poema de renascimento pessoal e temporal.
    Um abraço e bom fim de semana

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  16. Este sentir quase aflitivo de indefinido e triste...conduz-me para este 'penoso bem-estar' que é a minha condição de momento.

    Não fossem os dias já serem maiores e o ânimo andaria desaparecido.

    Sentes e sentes...sem nunca te cansares de sentir.
    E pode ser uma canseira...sentir.

    beijinho

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  17. Minha querida:
    Uma coisa certíssima que disseste:Todos os anos serás outra Primavera e mais rejuvenescida,como as flores.
    Parabéns,parabéns,nunca me cansarei de te felicitar.Escreves cada vez melhor!
    Beijinhos da
    Beatriz

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  18. A nostálgia de ver passar o tempo.
    Belissimo poema.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    MAria

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  19. Manuela: Diferente mais lindo e belo adorei
    Beijos
    Santa Cruz

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  20. Excelente.
    A tua poesia encanta-me sempre.
    Parabéns pelo talento, querida amiga.
    Manuela, desejo-te uma óptima semana.
    Beijo.

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  21. Olá Manuela, belo poema...Espectacular....
    Cumprimentos

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  22. Gosto de pensar na
    direção desses teus versos
    abaixo:
    "Eu também não serei mais quem era
    sou também outra Primavera."

    Lindo blog,
    ja seguindo voltarei.
    Belo tempo de carnaval pra voce.
    Bjins
    Catiaho Reflexo d'Alma

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  23. Às vezes é difícil qualificar uma obra prima. Só contemplá-la, admirá-la, senti-la. Assim é com este magnífico texto. Ler, admirar e sentir.
    Beijinho

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  24. Olá Manuela!
    O teu poema está maravilhosamente "construído". Fala da natureza e as suas mutações e dos seres sensíveis que nela habitam . Veio-me à ideia o último terceto de um soneto de Rodrigues Lobo:" E lá virá a fresca Primavera./ Tu voltarás a ser o que eras dantes/ Eu não sei se serei quem dantes era."
    Boa semana. Um beijo.
    M. Emília

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  25. Oi amada amiga!
    Estamos sempre em mutação... seremos outra primavera! Parabéns pela belíssima tessitura literária.
    Beijinhos de estrelas

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  26. Oi Manu
    'êxtase na vastidão de ausências'_ não quero prolongar, volto apressada pra tirar o atraso e a saudade.
    Esse poema é muito lindo, como tudo que escreve ,
    deixo-te meu abraço amigo

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  27. É verdade, minha querida! Nunca ninguém consegue ser mais quem era. A primavera passa por nós na rapidez do tempo, porém a beleza sublime do seu poema, será eterna.
    Chorei!!!
    Beijinho amigo e uma flor.

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