"Paisagens Naturais" de Helena Chiarello cacadorinfoto.blogspot.com |
do campo.
A sombra das laranjeiras casava-se com a folhagem oferecida da ramada, donde pendiam agora os cachos negros de verdelho e retinto e que serviam de suporte a ninhos de cerezinas que espreitavam curiosas os estranhos vultos humanos...
...Mas as tardes tinham outro encanto!
O tempo ia correndo preguiçoso entre o rio e um livro à sombra da laranjeira pingando flores intensamente brancas, intensamente perfumadas...
...e deixava o "amor" adormecido no meio do romance e fazia-me ao rio com um pequeno e rudimentar apetrecho de pesca...
Tardes de pura quietude!
Deixava-me absorver pela mansidão das águas e dos pequenos peixes em recreio, que brincavam com as libelinhas que sobrevoavam a capa das águas que também dormiam e onde eu me espelhava juntamente com os choupos que emolduravam o meu corpo.
Era um cheiro a frescura, a água lavada, misturado com o lodo verde onde serpenteavam enguias e trutas esguias...
...e lançava o meu isco...e sorria...
...Os peixes, numa desconfiança atrevida, apareciam parcimoniosamente picando o anzol, com um "não te quero" ..."mas volto"...
...e davam meia volta como num bailado sem vénias!
... E... nada!
Mas era gostosamente doce e relaxante, sentir o vai-e-vem, o sossego que os barbos e bogas me transmitiam...
...e eu não queria o peixe...eu queria o prazer da tranquilidade das águas sobrevoadas pelas libelinhas , e que se agitavam em tremura, juntamente com o voo rasante das andorinhas...
...E neste relaxamento induzido pelo coaxar das rãs e o borbulhar das águas transparentes nos seixos, onde o céu azul mergulhava, transportava-me para o meu lugar seguro, onde não tinha necessidade
de defesas nem de escudos...
...Era eu própria!
Deixava-me embalar nesta onda de paz...
...olhava o Universo...
...e sentia-me à porta de minha Casa!
Corria uma maré frisante que arrepiou os meus cabelos acordando-me do torpor de pensamentos.
Mergulhei na água cristalina que me acordou...
...as folhas dos choupos dançavam dizendo adeus...
...e enfeitei os meus olhos com espelhos de água e libelinhas num entremeio de renda...
... por onde os raios de sol penetravam...
... bordando este lençol que cobre ainda o meu berço de menina!
Que paz, que aconchego, que delícia!
ResponderEliminarO lirismo de tuas palavras nos transporta a esse momento de pura contemplação e harmonia, também à porta dessa "casa" que o Universo é, de forma tão imensa, acolhedora e bela!
Manu amada! Que coisa linda esse texto!
Me encantou esse "pescar" sem na verdade querer o peixe... Apenas pelo prazer de estar ali, em comunhão com as águas, a natureza, a vida!
Sabe, Manu... É essa a sensação que essa foto (e o lugar ali registrado) sempre me inspirou... E agora, isso tudo vem assim, de presente e coroado pela beleza de tuas palavras!
Ver as coisas assim é grandeza espiritual, minha amiga... E dizer o mundo assim é pra quem tem a alma iluminada! E isso eu sei, você tem mesmo!
Obrigada sempre pelo carinho!
Um beijo enorme, pessoa querida!
Fantástico, é um deleite olhar por palavras tão interessantemente conjugadas!
ResponderEliminarRui
É sempre lindo ler-te, mas este texto é demasiadamente bonito para não ser relido!
ResponderEliminarO ambiente e os sentimentos tão bem desenhados, a natureza aconchegada a ti... e aquele bem estar que só a observação de tudo nos provoca!
Lindo, Manuela.
Sabe que ao final de tudo eu só conseguir respirar fundo e me sentir de volta em mim? Isso foi tudo. Adoro a leveza que você despeja em seus textos. Lembrei-me da expressão correta "suas palavras me dão asas". rs
ResponderEliminarbacio e um bom domingo
Olá! Passei para conhecer e já estou aplaudindo este belo Blog. Te linkei em meus favoritos. Grande abraço, Milla
ResponderEliminarManuela querida,desta vez aconteceu comigo:fiz um comentärio enorme,emocionado,com olhos lacrimejando e,nada...não seguiu.Agora vou dizer,prosaicamente,que gostei demais do seu texto
ResponderEliminare,que mais tarde,após concluir as minhas tarefas domésticas,farei nova leitura e enviarei todo o sentimento que voce merece por um poema/texto tão inspirado e inspirador,como tudo que você faz,aliás.
Bjssssss carinhosos apesar de apressados,
Leninha
Manuela, estou passando pra lhe desejar uma ótima semana e deixar um abraço. Milla
ResponderEliminarManuela muito amada,esta tarde vislumbrada das varandas de tua alma,tem a calmaria da brisa que levemente te acaricia...e enfeitaste os olhos e nos fizeste viajar contigo,pelo encanto das tardes,pelas águas deste rio que te faz deixar o amor no livro e mergulhar em sua beleza,numa pescaria de poemas e não de peixes,que nem querias...
ResponderEliminarEstou aqui deslumbrada pela maestria de tuas palavras,pela doçura de tuas imagens...e pela foto de nossa querida Helena,a quem um dia
pedi que me ensinasse o olhar...agora é a vez de te pedir,tem como ensinar este olhar da alma?
Mas sei que é um DOM,não pode ser ensinado,como
quando eu,criança ainda,coloria os meus desenhos
e uma coleguinha pediu que a ensinasse a colorir
como eu,e tentei de todas as maneiras,até que ela me falou:não adianta,é DOM e se nasce com ele...
Bjssssssss minha querida,muito carinho e fique com Deus,
Leninha
Carissima, passo por aqui nessa manhã apenas para avisá-la de que levei seu poema lá para o meu sótão nesta última segunda-feira. Agradeço o carinho em suas palavras e mais uma vez a poesia que aninhou-se em mim.
ResponderEliminarbacio
Como foi um imenso prazer te encontrar...
ResponderEliminarOla Manuela...vim seguindo a trilha da
ResponderEliminarquerida Lunna Guedes "Menina no Sotão"...
já prevendo um passeio feliz...mas me surpreendeu
por tão Deliciosa leitura em "Tardes Mansas"!
Que Linda paisagem nasceu de suas palavras!
Grata pela leveza que deu aos meus sentidos
beijos com carinho...da Eliana
Venho lá da "menina do sotão" encantada com o poema que fez minha noite ficar mágica também.
ResponderEliminarPor quero mais vou estar sempre que possível vindo visita-la e espero nao incomodá-la muito rs
Gosto de poetas , de anjos azuis vestidos assim de todas as cores, de todos os matizes e dessas tardes mansas e mornas que aquecem o coração . Obrigada por compartilhar essa tarde de libelinhas e espelhos d'água.
deixo um abraço
Manuela muito amada,estou no consultório de meu irmão e tento ver se consigo falar contigo...se não der,mandarei um e-mail à noite.Não resisti e postei o teu poema,com a foto da querida Helena,no Sonhos e encantos,tá?
ResponderEliminarVocê é muito especial,minha querida.Bjssssss,Leninha
Amo o que escreves pois falas com a alma e a doçura do teu ser. BJ M.F.
ResponderEliminarQuerida Manelinha
ResponderEliminarUma paisagem serena, para emoldurar um texto belíssimo!
Recordas a meninice num texto tão bucólico e, ao mesmo tempo, realista. É assim mesmo! Quando a Natureza nos conforta, sentimo-nos leves e nem nos apercebemos do «peso» de alguns dos nossos pensamentos.
Que texto! Fez-me recordar os meus tempos de menina bem novinha, olhando para as águas do rio Sardoura, onde gostava de molhar os pés, também elas transparentes, lindas com as suas mini- cascatas, lá na Quinta da Balsa, antes de chegarem ao rio Douro.
Parabéns e obrigada pelos sentimentos que me fizeste reviver.
Um beijinho
Beatriz